Clima sacrifica a criança
21/10/2025O futuro das próximas gerações está ligado às nossas ações de hoje!
Em seu novo artigo, Dr. José Renato Nalini, Secretário de Mudanças Climáticas de São Paulo, provoca uma discussão essencial: como as alterações climáticas afetam diretamente o bem-estar de nossas crianças?
O Dr. Nalini compartilha sua visão sobre os desafios e as responsabilidades que temos para garantir um futuro mais sustentável para todos.
Clima sacrifica a criança
Quando se fala em emergência climática, o resultado da inconsequência humana ao maltratar a natureza, tende-se a pensar que isso é uma questão ambiental. Não é. É uma questão de saúde.
Estudo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ da USP, provou que os desastres naturais afetam mais do que a infraestrutura das cidades. Elas atingem com severidade maior as crianças, que ingressam mais cedo no mercado de trabalho e se prejudicam no aprendizado.
A doutoranda Priscila Soares dos Santos e a professora Ana Lúcia Kassouf constataram que de 2013 a 2019, registrou-se um total de 18 mil ocorrências. Já até 2023, esse número subiu a 34 mil eventos, ou quase dobrou. Qual o motivo?
Enfrenta-se hoje dúplice desastre: o hidrológico e o climatológico. O primeiro consiste em chuvas violentas, inundações, enxurradas. O segundo é a estiagem, seca e o incêndio florestal. Crianças: as vítimas preferenciais dessas calamidades. Os fenômenos causam a interrupção das aulas e isso apressa o arremesso da criança para o mercado de trabalho. Contribui para isso a destinação dos edifícios escolares para abrigos. Os estudantes ficam sem aula. Atrasam o aprendizado. Condenam-se a um futuro limitado, com redução drástica da sua possibilidade de se tornar profissional qualificado.
A conclusão deve orientar políticas públicas de adaptação climática, assim como São Paulo faz, por clarividência do Prefeito Ricardo Nunes, que criou a Secretaria de Mudanças Climáticas e ordenou a elaboração do Orçamento Climático da cidade de São Paulo, mas não se limitou a isso.
A capital dispõe de cinquenta e nove cadernos de drenagem, com o diagnóstico geológico, hidrológico e de vulnerabilidade social de toda a cidade. Com isso, tem-se um quadro bem exato das prioridades a serem atacadas, como a necessidade de macro drenagem, micro drenagem, construção de jardins de chuva, as vagas verdes, a multiplicação de bosques e o plantio de cento e vinte mil árvores, o que tornará a maior cidade do Brasil, também a mais resiliente e a mais verde.
Se o clima prefere as crianças como vítimas, a gestão municipal as elege como alvo preferencial das políticas públicas. Que isso sirva de inspiração para a sociedade civil, que também é responsável por fazer a sua parte. Afinal, democracia participativa é isso: depende de protagonismo cidadão.
José Renato Nalini é Secretário-Executivo de Mudanças Climáticas de São Paulo.